Chupa-Porno #13

É a casa de Deus

Departamento: João Troviscal — jtroviscal @ 10:29 pm

Por razões familiares, vejo-me frequentemente na contingência de me deslocar ao Centro Comercial das Amoreiras, pela hora do fecho.
Geralmente, a esta hora, a dita superfície comercial já tem pouco movimento: há ainda umas pessoas a circular, mas dirigem-se para a saída ou para o parque de estacionamento. No entanto, há noites em que o cenário é diferente. Por vezes, mal passo uma das portas de entrada, deparo com um anormal aglomerado de gente, fervilhante de animação. São dezenas de rapazes e raparigas que, por entre animada conversa, partilham cúmplices risinhos e disfarçadas carícias, enquanto cruzam olhares lascivos, próprios desta idade de comportamento hormonal desenfreado, ao mesmo tempo que alguns entoam inocentes cantigas “de acampamento” acompanhadas à viola.
Durante algum tempo, e avaliando pelo aspecto da porta fechada junto à qual se juntavam, eu pensei que se tratava de uma espécie de uma “kids night” promovida pelo Bingo das Amoreiras (quanto mais cedo se fidelizar o apostador, melhor!) que, afinal e segundo vim a descobrir, parece que não existe – pelo menos oficialmente (eu cheiro o jogo ilegal à distância, e condeno-o! Querem apostar?).
Só passado algum tempo é que descobri a surpreendente verdade: afinal, aqueles jovens estavam ali reunidos para… REZAR. Na realidade, a porta fechada que eu via pertence, não a um Bingo, mas à Capela da Nossa Senhora das Amoreiras (parece que também há quem por lá deixe dinheiro, mas isso é outra conversa) que deve promover, de vez em quando, umas noites especiais (com bar aberto?) para as camadas mais jovens (acho que já disse isto, mas: quanto mais cedo se fidelizar o crente, melhor!). Assim está melhor: deverá calar aqueles que apregoam a corrupção da juventude; afinal, ainda é possível reunir jovens debaixo da bandeira do amor espiritual…

Se a resolução deste pequeno mistério acalmou a faceta curiosa da minha personalidade, logo a faceta religiosa entrou em tumulto por uma nova preocupação. A Igreja é a casa de Deus, mas Deus teve como arquitecto daquela casa o Taveira. Não há experiência mais profundamente religiosa do que o recolhimento na oração debaixo de um tecto desenhado por esse grande católico e imaculado exemplo da virtude que é o Arquitecto Tomás Taveira (agora podia fazer umas piadas como “Olhó crucifixo todo lá dentro. Tooodo lá dentro da Capela da Nossa Senhora!”, ou “Ui ca bom… que é estar aqui sentado…”, ou mesmo “Queres óleo? Para as madeiras, isto é”, mas acho que isso seria descer o nível…). Eu tenho alguma dificuldade em imaginar pessoas a rezar numa construção concebida pelo Taveira… Ajoelharem-se, tudo bem! Mas rezar?! E será que são hóstias aquilo que os acólitos levam à boca naquele sítio? Será vinho (o “sangue de Deus”) aquilo que escorre por aquelas gargantas?

Se calhar é uma Igreja mais permissiva:
-Pequei, Padre.
-Mas mataste alguém?
-Não, quer dizer… Fui infiel à minha esposa… Pratiquei sexo anal com a empregada…
-Oh homem! Você vem cá chatear -me por causa disso?! Deixe lá isso, pá! Acontece a todos.