Chupa-Incredulidades #8
Má Onda
Apesar de ser um entusiástico adepto, nem tudo no ‘jogo do futebol’ (como algumas amibas se referem ao fenómeno) me fascina. Aliás, há uma coisa que me causa mais espécie que a própria expressão “causar espécie”. A onda. Não sei como começou, mas dizem que foi durante o mundial do México 86 que se tornou mundialmente famosa e, pior que tudo, globalmente reproduzida. O que sei é que representa uma acção que devia tirar do sério até um Papa catatónico (qualquer Papa, portanto), mas, paradoxalmente, até é recebida com um entusiasmo tal que mais parece uma Nossa Senhora às azeitonas na Cova da Iria em 1917. O que mais me intriga na onda é o facto de nunca ter percebido bem como raio começa. Parece-me óbvio que não existem forças celestes que provoquem movimentos inadvertidos ou vindos do nada em indivíduos aparentemente sãos (já me bastaram as aulas de teatro do secundário a tentarem convencer-me do contrário). Logo, o que impele meia dúzia de mentecaptos a levantar os quadris da cadeira e a erguer os braços enquanto, em tom crescente, urram “ehehehehehh’s”, só pode estar relacionado com a mente brilhante dos mesmos. E depois aquilo propaga-se mais depressa que o Ébola numa piscina pública de Kinshasa. Começa na tal meia dúzia de pategos e, antes que eu me prepare mentalmente para os agoniantes minutos que aí vem, já se espalhou pelo estádio inteiro. Do mal, o menos, devo dizer, é o facto de este fenómeno medieval ainda estar, até ver, confinado ao estádio. Mas durante quanto tempo? Será que é apenas uma questão de tempo até começarmos a ver as plateias das salas de cinema a fazer a onda? Ou nos auditórios da faculdade sempre que alguém acerta uma pergunta? Ou na fila do autocarro sempre que o 36 aparece? E que tal na Missa sempre que as hóstias cheguem para todos?
Apesar de ser um entusiástico adepto, nem tudo no ‘jogo do futebol’ (como algumas amibas se referem ao fenómeno) me fascina. Aliás, há uma coisa que me causa mais espécie que a própria expressão “causar espécie”. A onda. Não sei como começou, mas dizem que foi durante o mundial do México 86 que se tornou mundialmente famosa e, pior que tudo, globalmente reproduzida. O que sei é que representa uma acção que devia tirar do sério até um Papa catatónico (qualquer Papa, portanto), mas, paradoxalmente, até é recebida com um entusiasmo tal que mais parece uma Nossa Senhora às azeitonas na Cova da Iria em 1917. O que mais me intriga na onda é o facto de nunca ter percebido bem como raio começa. Parece-me óbvio que não existem forças celestes que provoquem movimentos inadvertidos ou vindos do nada em indivíduos aparentemente sãos (já me bastaram as aulas de teatro do secundário a tentarem convencer-me do contrário). Logo, o que impele meia dúzia de mentecaptos a levantar os quadris da cadeira e a erguer os braços enquanto, em tom crescente, urram “ehehehehehh’s”, só pode estar relacionado com a mente brilhante dos mesmos. E depois aquilo propaga-se mais depressa que o Ébola numa piscina pública de Kinshasa. Começa na tal meia dúzia de pategos e, antes que eu me prepare mentalmente para os agoniantes minutos que aí vem, já se espalhou pelo estádio inteiro. Do mal, o menos, devo dizer, é o facto de este fenómeno medieval ainda estar, até ver, confinado ao estádio. Mas durante quanto tempo? Será que é apenas uma questão de tempo até começarmos a ver as plateias das salas de cinema a fazer a onda? Ou nos auditórios da faculdade sempre que alguém acerta uma pergunta? Ou na fila do autocarro sempre que o 36 aparece? E que tal na Missa sempre que as hóstias cheguem para todos?
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