Chupa-Histórias #1
Chupado no Sir Haiva
Digamos que um tipo chamado José sente-se atraido por uma miúda chamada Maria. Ele convida-a para uma ida ao cinema e ela aceita; divertem-se muito. Algumas noites depois ele convida-a para jantar fora, e novamente passam um bom bocado. Continuam a ver-se de forma regular e passado um tempo nenhum deles sai com mais ninguém.
É então que uma noite, quando estavam de carro a ir para casa, ocorre um pensamento à Maria e, sem se aperceber, ela comenta em voz alta: "Já reparaste que desde esta noite que já nos encontramos há seis meses?"
E então faz-se silêncio no carro. O casal começa a pensar para si mesmo:
Maria: Eia, será que o incomodei por dizer aquilo. Talvez ele se sinta preso pela nossa relação; talvez ele pense que o estou a pressionar a alguma espécie de obrigação que ele não quer ou não sabe se quer.
José: Eia, seis meses.
Maria: Mas eu própria não sei se quero este tipo de relação também. Às vezes gostaria de ter mais espaço para poder pensar se de facto pretendo continuar na direcção que estamos a seguir. Quer dizer... para onde estamos a seguir? Vamos apenas continuar a encontrarmo-nos com este nivel de intimidade? Estamos a caminhar em direcção a um casamento? Ter filhos? Uma vida em comum? Estarei preparada para esse compromisso? Conhecerei sequer esta pessoa?
José: Então isso significa... deixa ver... Fevereiro quando começámos a sair, que foi imediatamente antes de comprar o carro, o que significa... deixa ver o conta-quilómetros... Eh pá! Já devia ter feito a revisão do óleo!
Maria: Ele está chateado. Posso ver na expressão dele. Se calhar estarei a ler os sinais de forma errada. Se calhar ele quer mais da nossa relação, mais intinidade, mais compromisso; talvez ele tenha sentido - mesmo antes de mim - que eu estava com algumas reservas. Sim, aposto que é isso. É por isso que está tão relutante em partilhar os seus sentimentos. Ele tem medo de ser rejeitado.
José: E vou queixar-me também da transmissão outra vez. Não me interessa o que aqueles gajos digam, isto ainda não está bom. E é bom que eles não tentem culpar o tempo frio desta vez. Que tempo frio? Estão 30 graus lá fora e esta lata guia-se como um camião de lixo. E paguei eu uma fortuna aqueles incompetentes.
Maria: Ele está furioso. E eu não o culpo. Eu também estaria. Sinto-me tão culpada, a fazê-lo passar por isto, mas não consigo evitar sentir-me como me sinto. Simplesmente não tenho a certeza...
José: Eles provavelmente dirão que é apenas uma garantida de 90 dias. É exactamente o que eles vão dizer, os bandalhos!
Maria: Se calhar sou demasiado idealista, à espera do meu cavaleiro que apareça montado num cavalo branco, isto enquanto estou sentada ao lado de uma pessoa perfeitamente boa, uma pessoa com quem gosto de estar, uma pessoa de quem realmente gosto, uma pessoa que parece gostar mesmo de mim, uma pessoa que está a sofrer por causa da minha fantasia egoista de menina de escola.
José: Garantia? Eles querem uma garantia? Eu dou-lhes a garantia! Digo-lhes para pegarem na garantia e enfiaram-na pelo...
"José," diz Maria alto.
"Quê?" diz José distraido.
"Por favor não te tortures mais", diz ela, os olhos a lacrimejar. "Talvez eu nunca devesse ter... oh meu Deus, sinto-me tão..." e desata a soluçar.
"O quê?" diz José.
"Sou uma parva." diz a Maria. "Quer dizer, eu sei que não existe cavaleiro, eu de facto sei isso. É patético. Não existe Cavaleiro, e não existe cavalo."
"Não existe cavalo?" pergunta o José.
"Deves pensar que sou uma tola, não é verdade?" diz a Maria.
"Não!" responde o José, contente por finalmente saber a resposta correcta.
"É só que... é que eu... eu preciso de tempo." titubeia Maria.
(Seguem-se 15 segundos de silêncio enquanto José pensa o mais rápido que pode e tenta apurar uma resposta segura. Finalmente pensa numa que é capaz de funcionar)
"Sim." ele diz.
(Maria profundamente comovida toca na mão dele)
"Oh, José, sentes-te realmente assim?" pergunta ela.
"Assim, como?" diz José.
"Assim, em relação ao tempo." diz Maria.
"Oh," responde José. "Sim."
(Maria vira-se para ele e olha-o nos olhos, o que torna José muito nervoso acerca do que ela possa dizer a seguir, especialmente se envolver um cavalo. Por fim ela fala.)
"Obrigado, José."
"Obrigado" diz José.
Então ele leva-a a casa, ela deita-se na cama, e com a alma torturada e em conflito, chora até de manhã. Entretanto José volta para sua casa, abre um pacote de Doritos, liga a TV e fica imediatamente cativado por uma reposição no canal História sobre a invenção da dinamite.
Uma pequena voz no fundo da sua mente diz-lhe que alguma coisa importante se passou no carro, mas ele tem quase a certeza que não há hipótese de alguma vez perceber o quê e então pensa que o melhor é esquecer. (É esta também a politica dele em relação à diferença entre as cores creme e pérola.)
No dia seguinte Maria telefonará à melhor amiga ou mesmo a duas amigas e falarão da situação durante seis horas seguidas. Com detalhes pormenorizados, analizarão tudo o que ele disse, repassando tudo outra vez, palavra a palavra, expressão a expressão, gesto a gesto, procurando pequenas nuances de significados, considerando todas as possiveis ramificações. Continuarão a discutir este assunto por semanas, talvez meses, nunca chegando a nenhuma conclusão definitiva, mas também sem nunca se aborrecerem com ele.
Entretanto o José, enquanto jogava golf com um amigo comum aos dois, um dia, apenas fez uma pequena pausa no jogo para questionar: "João, a Maria alguma vez teve um cavalo?"
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