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14.10.05

Chupa-Ámen #1

Aparição da Virgem Maria aos Pastorinhos de Fátima

Tenho uma explicação para o Milagre de Fátima e resume-se a isto: andavam os pastorinhos todos felizes da vida a pastar as cabras, quando notam que os caprinos estão com um ar bastante feliz. Motivados pela curiosidade, vêem as bichas a comer desalmadamente uns invulgares cogumelos de cores berrantes. “Se é bom para elas, é bom para nós”, pensaram os petizes, e se bem o pensaram, melhor o fizeram. Alguns minutos depois, encandeados pelo sol, vêem a Virgem Maria num arbusto mais alto. O que se segue é histeria colectiva.

Se há explicação para o milagre de Fátima, não há qualquer explicação para o autêntico festival de pagamento de promessas que leva os fiéis ao Santuário. O conceito é simplesmente absurdo. Dá cá uma cura para não-sei-quê que eu arrasto-me até Fátima. A culpa, claro, é de uma Igreja que gosta dos seus fiéis convenientemente ignorantes e que não desencoraja estes desvarios, o que também deve passar pela facturação do Santuário. Fátima é a grande superfície da Igreja Católica, o hipermercado espiritual de Portugal por excelência.

Mas Fátima é também o festival gore da Igreja. O pagamento de promessas é feito através de travessias suicidas de longos quilómetros por estradas nacionais. Bolhas nos pés são o mínimo que se exige para um pagamento adequado, mas a evidência de fé mais cotada passa mesmo por joelhos ensanguentados, ou mesmo braços, para quem rasteje pelo Senhor. No Fátima Shopping, os fragmentos do corpo humano feitos em cera complementam na perfeição a componente grotesca da adoração à Virgem Maria. Perninhas ou bracinhos disputam o escaparate com as tradicionais velas vendidas a metro.

Se a Igreja não pretende acabar com este disparate, pelo menos que minimize os seus efeitos na sinistralidade rodoviária. Apesar dos peregrinos estarem mais cautelosos e usarem coletes retro-reflectores na sua caminhada, isso não chega. Proponho que a Diocese de Leiria instale passadeiras de cardio-fitness em Fátima para os peregrinos. Limpava-se a estrada de peões radicais e os fiéis poderiam estar mais próximos de Deus enquanto saldavam as suas dívidas. Para não tornar a coisa demasiado cómoda (o pagamento de promessas exige sofrimento a valer), o tapete da passadeira poderia ser revestido a alcatrão ou gravilha, conforme a dimensão da promessa. E porque o risco de atropelamento deixa de existir e também entra na contabilidade divina, seria substituido por dispositivo semelhante ao das slot machines, que periodica e aleatoriamente seleccionaria uma passadeira para andar a 50Km/h.

Deste modo, a essência da promessa permaneceria intacta e as estradas ficariam mais seguras.


[o.calvin] [Permalink]

1 Merdas Adicionais:

  • Ou pelo menos, uns caminhos pelo mato, c já há a partir de Lisboa. Se há Caminhos de Santiago não faz sentido que o Caminho de Fátima seja o IC2.

     

    Joperado às 11/04/2005 11:22 da manhã por Blogger Ismael.

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